Sobre a vida e sobrevida da teoria do bem jurídico

um ensaio crítico em diálogo com o livro “Ainda vive a teoria do bem jurídico?”, de Humberto Souza Santos

Autores

  • Hugo Soares Humboldt Universität

DOI:

https://doi.org/10.46274/1809-192XRICP2022v7n1p190-209

Palavras-chave:

Teoria do bem jurídico, limitação do poder de incriminar, princípio democrático, delitos de perigo abstrato, esfera imponderável da autonomia, barreiras deontológicas

Resumo

Partindo das ideias apresentadas na recém-publicada tese de Humberto Souza Santos, o presente artigo objetiva promover um diálogo a respeito do estado em que a teoria do bem jurídico atualmente se encontra. Promove-se, para tanto, um exame crítico tanto do conteúdo expositivo quanto do propositivo da obra. Traz-se, nesse contexto, discussões sobre a função limitadora da teoria do bem jurídico, seus pontos de tensão com o princípio democrático e sua vulnerabilidade decorrente da consolidação da categoria de delitos de perigo abstrato. Igualmente, o artigo promove análises relativas ao reconhecimento de uma esfera imponderável da autonomia individual, à elevação do nexo de idoneidade entre conduta proibida e violação de bem jurídico à condição de critério de legitimidade de criminalização e ao adensamento do conceito de bem jurídico merecedor de tutela penal. Ao fim, chega-se à conclusão de que a teoria do bem jurídico, apesar de ainda carecer de aprimoramentos e complementações, permanece viva, preservando a sua capacidade de rendimento.

Referências

AMPARO, Thiago. Ao criminalizar LGBTfobia, STF reafirma seu papel perante Legislativo. Folha de São Paulo, 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/thiago-amparo/2019/05/ao-criminalizar-lgbtfobia-stf-reafirma-seu-papel-perante-legislativo.shtml>. Acesso em: 7 jun. 2022.

BORGES, Francisco. O crime de desobediência à luz da constituição. Coimbra: Almedina, 2011.

BOZZA, Fábio da Silva. Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal. 1. ed. São Paulo: Almedina, 2015.

CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: Parte Geral. 6. [s.l.]: ICPC, 2014.

COELHO, Yuri Carneiro. Bem jurídico-penal. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003.

DIMOULIS, Dimitri. Direito penal constitucional. Finalidade, fundamentos, dimensões. In: ZILIO, Jacson; BOZZA, Fábio (Orgs.). Estudos críticos sobre o sistema penal. Homenagem ao Professor Doutor Juarez Cirino dos Santos por seu 70o aniversário. Curitiba: LedZe Editora, 2012.

ESTEFAM, André. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 2010.

FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Sobre la crisis de la teoría del bien jurídico: Recensión a Roland Hefendehl (ed.): “La teoría del bien jurídico. ¿Fundamento de legitimación del Derecho penal o juego de abalorios dogmático?, editorial Marcial Pons, Madrid y Barcelona 2007, 478 páginas. InDret: Revista para el Análisis del Derecho, v. 2, p. 1–16, 2008.

FEINBERG, Joel. The Moral Limits of the Criminal Law Volume 3: Harm to Self. [s.l.]: Oxford University Press, 1989.

FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens fundamentais. [s.l.: s.n.], 2011.

FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Direito Penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Coimbra Editora, Revista dos Tribunais, 2007.

GALVÃO, Fernando. Direito penal: parte geral. 7a edição revista, ampliada e atualizada. Belo Horizonte, MG: D`Placido Editora, 2015.

GÄRDITZ, Klaus Ferdinand. Strafbegründung und Demokratieprinzip. Der Staat, v. 3, p. 331–367, 2010.

GARGARELLA, Roberto. ¿Cómo interpretar el artículo 19 de la Constitución Argentina? Entre el “sueño” y la “pesadilla” de John Stuart Mill. In: GARGARELLA, Roberto; ÁLVAREZ MEDINA, Silvina; IOSA, Juan (Orgs.). Acciones privadas y constitución: la autonomía personal en la interpretación del artículo 19 de la Constitución Nacional. Buenos Aires: Rubinzal-Culzoni, 2021.

GRECO, Luís. Posse de droga, privacidade, autonomia: reflexões a partir da decisão do Tribunal Constitucional argentino sobre a inconstitucionalidade do tipo penal de posse de droga com a finalidade de próprio consumo. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 18, n. 87, p. 84–102, 2010.

GRECO, Luís. “Princípio da ofensividade” e crimes de perigo abstrato - Uma introdução ao debate sobre o bem jurídico e as estruturas do delito. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 12, n. 49, p. 89–147, 2004.

GRECO, Luís. Tem futuro a teoria do bem jurídico? Reflexões a partir da decisão do Tribunal Constitucional Alemão a respeito do crime de incesto (§ 173 Strafgesetzbuch). Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 18, n. 82, p. 165–185, 2010.

GRECO, Luís; TÓRTIMA, Fernanda Lara (Orgs.). O bem jurídico como limitação do poder estatal de incriminar? 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2016.

GUEIROS, Arthur; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo. Direito Penal: Volume Único. São Paulo: Atlas, 2018.

HEFENDEHL, Roland. Uma teoria social do bem jurídico. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 18, n. 87, p. 103–120, 2010.

HERZOG, Felix. Gesellschaftliche Unsicherheit und strafrechtliche Daseinsvorsorge: Studien zur Vorverlegung des Strafrechtsschutzes in den Gefährdungsbereich. Heidelberg: R.v. Decker, 1991.

IAMARINO, Atila. Autoritarismo necessário: ou será preciso calar as vozes antivacina ou tornar a vacina compulsória. Folha de São Paulo, 2021. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/atila-iamarino/2021/01/autoritarismo-necessario.shtml>. Acesso em: 7 jun. 2022.

JAKOBS, Günther. Rechtsgüterschutz? Zur Legitimation des Strafrechts. Paderborn: Schöningh, 2012.

LOWBRIDGE, Caroline. As lésbicas acusadas de transfobia por recusarem sexo com mulheres trans. BBC News, 2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-59052341>. Acesso em: 7 jun. 2022.

MARTINELLI, João Paulo Orsini; DE BEM, Leonardo Schmitt. Lições fundamentais de Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2017.

MÖLLER, Uriel. Definition und Grenzen der Vorverlagerung von Strafbarkeit: Diskussionsstand, Rechtsgeschichte und kausalitätstheoretische Bezüge. 1. ed. Göttingen: V&R unipress, 2018.

MONTENEGRO, Lucas. Por que se qualifica o homicídio? Um estudo sobre a relevância da motivação em direito penal, por ocasião da lei do feminicídio (lei 13.104/2015). São Paulo: Marcial Pons, 2017.

NEUMANN, Ulfrid. “Alternativas: nenhuma”. Sobre a crítica mais recente à teoria pessoal do bem jurídico. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 23, n. 116, p. 97–110, 2015.

NEUMANN, Ulfrid. Dezision statt Argumentation? Zur (post)modernen Kritik der Rechtsgutslehre. In: FISCHER, Thomas; BARTON, Stephan (Orgs.). Festschrift für Thomas Fischer. München: C.H. Beck, 2018.

PRADO, Luiz Regis. Bem Jurídico-Penal e Constituição. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

PRITTWITZ, Cornelius. Teoria pessoal do bem jurídico e as “vítimas de amanhã”. Revista de Estudos Criminais, v. 15, n. 61, p. 9–24, 2016.

ROXIN, Claus; GRECO, Luís. Strafrecht - Allgemeiner Teil. Band 1: Grundlagen - Der Aufbau der Verbrechenslehre. 5. ed. München: C.H. Beck, 2020.

RUSCA, Bruno. En defensa de una interpretación consecuencialista del principio del daño. Política criminal, v. 15, n. 30, p. 811–839, 2020.

SANTOS, Humberto Souza. Ainda vive a teoria do bem jurídico?: uma contribuição ao debate sobre a teoria do bem jurídico e os limites materiais do poder estatal de incriminar. São Paulo: Marcial Pons, 2020.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

SIQUEIRA, Flávia; SOARES, Hugo. Vacinação compulsória? Sobre os limites da atuação do Estado no combate à COVID-19. Revista de Estudos Criminais, v. 81, n. 1, p. 28–60, 2021.

SOARES, Hugo. Clemência no Tribunal do Júri? Reflexões derivadas do argumento a fortiori trazido no voto-vogal do Min. Fachin em sede do ARE 1225185, Tema/RG 1.087. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 7, n. 2, p. 1513, 2021.

SOARES, Hugo. Podem ser legítimos crimes sem referência a bens jurídico-penais? Elementos para uma teoria sentimentalista do valor jurídico-penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 26, n. 147, p. 333–374, 2018.

SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de. Bem jurídico-penal e engenharia genética humana: contributo para a compreensão dos bens jurídicos supra-individuais. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004.

STUCKENBERG, Carl-Friedrich. As deficiências constitucionais da Teoria do Bem Jurídico. Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal, v. 2, n. 1, p. 03–14, 2014.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Manual de derecho penal: parte general. Buenos Aires: Ediar, 2007.

Downloads

Publicado

23-09-2022

Como Citar

SOARES, H. Sobre a vida e sobrevida da teoria do bem jurídico: um ensaio crítico em diálogo com o livro “Ainda vive a teoria do bem jurídico?”, de Humberto Souza Santos. Revista do Instituto de Ciências Penais, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p. 190–209, 2022. DOI: 10.46274/1809-192XRICP2022v7n1p190-209. Disponível em: https://www.ricp.org.br/index.php/revista/article/view/124. Acesso em: 4 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos